«Lembro-me perfeitamente que, quando comecei a estudar nos finais dos anos 60, tinha um livro, um caderno e uma caneta. Não havia pastas ou mochilas para todos. Quase nenhum dos meus colegas as tinha. O material era levado para a escola na mão e os mais felizardos usavam uma capa com um elástico amarelo.
É verdade que o ensino era muito repressivo. Os cachaços, os puxões de orelhas, as canadas e as reguadas eram frequentes, mas a verdade é que aprendíamos. Não se aplicava a benevolência a quem não cumpria, mas, apesar de tudo, não conheço ninguém traumatizado por isso. Ficaram sim, pessoas bem formadas e com bons valores.
Houve alguns exageros, aceito que sim. Frustrados ou desajustados socialmente, muito poucos. Fizeram-se homens e mulheres de fibra, de luta e de trabalho. Formou-se uma geração efectivamente capaz de encarar a vida de frente e sem receios, embora os tempos fossem difíceis.
Agora são uns “meninos” do papá e da mamã, preguiçosos e mal-educados.
Não têm normas de conduta, nem se sabem comportar quer na escola quer em sociedade.
São uns frustrados por natureza e precisam constantemente de apoio e tratamento psicológico e pedopsiquiátrico.
A metodologia e os conteúdos programáticos são facilitistas, mas eles queixam-se das dificuldades. Têm tudo, mas não querem nada.
Durante a primeira metade da década dos anos 80, frequentei a faculdade em Coimbra. Foi um tempo de ouro, embora trabalhoso e difícil. Recordo que existia apenas um computador que funcionava a cartões perfurados. Tínhamos que nos inscrever para digitar texto e isso requeria muito tempo. A esmagadora maioria das vezes desistíamos.
Não existiam fotocopiadoras (surgiram em 1983) e usávamos fichas de registos. Passávamos muito tempo na biblioteca. Pesquisar, consultar, resumir e estudar eram as nossas tarefas diárias. Assistir às aulas era uma necessidade, pois os apontamentos dos anos anteriores eram raros e difíceis de arranjar.
Para nos divertirmos usávamos a imaginação, porque o dinheiro escasseava e estava certinho para o alojamento, as refeições e o transporte. Possuíamos claramente a noção do bom senso, do civismo e do respeito. Mesmo assim, conseguíamos ser felizes.
Agora, para além da enormidade de cursos existentes, os alunos têm tudo e não querem fazer nada.
Bons edifícios, boas salas, bons laboratórios e bons materiais.
Computadores e portáteis pessoais, internet e telemóveis.
Tudo há distância de um clique e sem esforço.
Também não se sabem divertir, só querem farra, copos e “inconsciência”.
Não sei se são felizes, apenas vivem.
Então por que razão têm eles tanto insucesso?
Eu sei, mas pensem vocês nisso, pois eu não vos vou dizer…»
Texto da autoria de um dos meus professores preferidos: o Prof. Patrício Gameiro (http://bocarrotas.blogspot.com/)
Texto no http://apitadavizinha.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário